Quando estava no segundo semestre da faculdade de psicologia, me interessei por uma disciplina cuja proposta era explorar a Psicologia Positiva. Ao contrário da perspectiva clássica da Psicologia que foca em problemas e patologias, a Psicologia Positiva estuda as forças e virtudes humanas.
A dedicação ao estudo da área se estendeu a quase dois anos, nos quais eu desempenhei atividades de iniciação científica em laboratórios que tentavam compreender diferentes facetas desta perspectiva da psicologia.
Por alguns meses, meu foco de estudo foi a autocompaixão. Segundo Kristin Neff, pesquisadora referência na área, podemos entendê-la como uma atitude positiva direcionada a si mesmo. Ela é formada por três elementos: bondade consigo, senso de humanidade e mindfulness.
No meu trabalho em consultório, muitas vezes incentivo o desenvolvimento da autocompaixão. Não é raro encontrar alguém que tem a tendência de tratar a si mesmo de uma maneira muito mais rígida do que trata as outras pessoas.
Desenvolver autocompaixão significa encontrar maneiras de ser mais gentil consigo mesmo, ao invés de julgar a si de maneira severa. Por meio dela, é possível compreender que experiências negativas fazem parte do ser humano, e todos nós estamos sujeito a elas.
Um de seus componentes, a atenção plena, engloba a consciência equilibrada dos pensamentos e sentimentos desagradáveis que podem surgir a partir de uma experiência negativa. Não é porque você sente emoções desagradáveis que você é definido por elas, ou precisa se sentir submerso a elas.
A experiência humana é permeada por falhas, mas elas não tornam ninguém menos digno de atenção e respeito. Mais do que importante, é saudável para consigo mesmo tratar a si próprio como você trataria alguém com que você realmente se importa.
Libertar-se dos muitos “eu deveria…” que impomos a nós mesmos é uma maneira de expandir a nossa saúde mental. É realmente necessário ser tão severo consigo mesmo? Você diria ao seu melhor amigos as coisas que diz a si mesmo quando não se acha bom o suficiente?
Tentar ignorar ou reprimir dores que sentimos não costuma ser uma estratégia muito efetiva para lidar com elas. Afinal, quando você tenta intencionalmente não pensar em algo, você acaba direcionando a sua atenção para aquilo em que não gostaria de pensar.
Ao reconhecer falhas como parte da experiência humana, é possível desenvolver padrões mais saudáveis e adaptativos de pensamentos, sentimentos e comportamentos. Quando desenvolvemos autocompaixão, é possível desassociar emoções negativas a falhas pessoais ou inadequações.
Ruminação, autocrítica e solidão compõem os ingredientes perfeitos para resultados prejudiciais a sua saúde mental. Lembrar que o sofrimento e o fracasso pessoal acontecem a todas as pessoas ajuda a colocar a experiência de alguém em perspectiva. Ao aceitar e identificar o que se sente, é possível encontrar maneiras mais saudáveis de enfrentar o desconforto, minimizando-o.
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